terça-feira, 30 de março de 2010

"Natural experiments: Working in the history lab", Jared Diamond & James A. Robinson (29.03.2019)


Para um cientista testar uma hipótese necessita de, num ambiente controlado, manipular uma variável e analisar os seus efeitos. Em muitos casos é, no entanto, impossível ou imoral fazê-lo. Por exemplo, em 1854, durante um surto de cólera em Londres, John Snow colocou a hipótese do agente causador do surto ser a água de uma dada fonte. Para testar a sua teoria seria necessário dar essa água a beber a um grupo de moradores, e comparar os seus efeitos com um grupo de controle. Claro que isso seria imoral, pois corria-se o risco de infectar o primeiro grupo (quem estiver interessado neste assunto deve ler este livro: The Ghost Map). Não podendo assim controlar a experiência, John Snow optou por uma "experiência natural". Utilizou como grupo de controle os trabalhadores duma fábrica de cerveja da zona, que não bebiam daquela água, conseguindo no fim provar a sua teoria. Não sendo possível ter um ambiente controlado, John Snow utilizou uma experiência natural.

Usar "experiências naturais" como a atrás descrita para testar hipóteses é muito comum em diversas áreas, como na astronomia, biologia evolutiva, etc. Neste artigo, os autores apoiam a ideia de utilizar o método científico para o estudo da história, algo com que concordo em absoluto. Os historiadores normalmente reagem mal a este pedido. Considero, no entanto, que estes devem deixar de ser meros "contadores de histórias" e passar a utilizar métodos mais rigorosos para se conseguir compreender o melhor possível o nosso passado. Têm de ultrapassar a sua alergia à matemática e à estatística e habituar-se a trabalhar em grupos inter-disciplinares, algo a que não estão acostumados. É verdade que ao estudar cientificamente a História temos de aceitar a escassez de dados e o facto de que terão de se tapar muitos "buracos". Algo que é impensável noutros campos científicos, como a química ou a física. No entanto, isto seria perfeitamente aceitável neste campo do saber, assim como já é aceite nos estudos paleontológicos ou na biologia evolutiva.

Vale a pena ler o artigo, pois dá bons exemplos que sustentam a opinião dos autores, tocando ao de leve em questões históricas muito interessantes. O livro que os autores escreveram em conjunto sobre este assunto, Natural Experiments of History, também promete (já li um livro de um dos autores - Collapse, de Jared Diamond - e adorei, por sinal).