quarta-feira, 25 de julho de 2012

"No centenário de Milton Friedman", João Carlos Espada (25.07.2012)

in Público


Como o desconhecimento sobre as ideias de Adam Smith ou de Milton Friedman dão muitas vezes origem a  mal-entendidos, julgo que este artigo do João Carlos Espada é digno de leitura. Seguem alguns excertos:


"Os dois autores [Smith e Friedman] são retratados como irredutíveis defensores do capitalismo, o qual é em seguida identificado com um individualismo egoísta, insensível à sorte dos mais desfavorecidos e destituído de qualquer preocupação com o bem comum.

A verdade, todavia, é quase o oposto. Milton Friedman, tal como Adam Smith, olham para o funcionamento da economia do ponto de vista dos muitos, do chamado homem comum, e não do ponto de vista dos poucos que possam deter vantagens herdadas ou obtidas por favores políticos. E o seu argumento central consiste em dizer que a troca livre em regime de concorrência é o sistema que mais favorece a elevação do nível de vida do maior número de pessoas.


Em contrapartida, Friedman argumentou, tal como Smith tinha argumentado, que a intervenção directa do Estado na economia gera em regra mais prejuízos do que benefícios. Cria rendas de situação para grupos particulares, artificialmente protegidos da concorrência; aumenta os custos de produção relativamente aos que existiriam em regime de concorrência; e, pelas razões anteriores, gera uma espiral despesista incontrolável pelo homem da rua - ainda que essa despesa seja paga por ele através dos impostos."


"Este paradoxo acentua-se no momento actual, quando a insustentabilidade da despesa e da dívida dos Estados é atribuída a alegadas políticas neoliberais, identificadas com Milton Friedman. E o paradoxo atinge o absurdo quando políticas de austeridade fundadas na subida dos impostos são também acusadas de neoliberais.

Como muito bem recordou Niall Ferguson no artigo de The Spectator, Milton Friedman ficaria incomodado com a confusão gerada actualmente pela dicotomia entre "austeridade e crescimento". Ele dificilmente poderia apoiar qualquer delas, enquanto nenhuma delas atacasse frontalmente o desperdício e despesismo produzidos por gigantescas organizações estatais artificialmente protegidas da concorrência. Também não poderia aceitar que a ausência ou debilidade dessas medidas procurasse compensação na subida da carga fiscal sobre os cidadãos e as famílias."