quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"Highly charged motoring", Leaders (7.10.2010)


Vale a pena ler os artigos da Economist desta semana acerca dos carros eléctricos. A principal questão que se coloca é se os subsídios para este tipo de transporte são mesmo a melhor forma de investir o dinheiro dos contribuintes para reduzir o efeito de estufa. A conclusão é negativa, e no fundo estes artigos tentam reduzir um pouco o entusiasmo gerado em relação a estes veículos.

Os carros eléctricos têm, em primeiro lugar, um problema de autonomia. Uma bateria não dá para mais de 150km, e muitos carros eléctricos têm autonomias ainda menores. Ou seja, para distâncias pequenas, para o dia-a-dia normal, é suficiente. Mas para distâncias maiores começam a surgir os problemas (embora se deva dizer que a grande maioria das distâncias percorridas é reduzida, e para isso esta autonomia é suficiente). Ainda estamos longe de poder comparar a autonomia de um carro destes com os actuais a petróleo. De qualquer forma, o ponto aqui não é esse. Estes automóveis são vendidos como sendo “verdes”, “veículos de emissão zero”, “amigos do ambiente”. Por isso, a maior parte dos governos subsidia a aquisição deste tipo de veículos: 5000£ no Reino Unido, $7500 nos EUA, e penso que em Portugal o subsídio pode chegar aos 5000€. Mas a questão principal que se coloca nestes artigos, e que julgo de facto ser muito relevante, é a seguinte: é este subsidio a forma mais eficaz de combater os gases que provocam o efeito de estufa, nomeadamente o CO2? A resposta genérica a esta pergunta é relativamente simples: depende do mix energético do país. Vejamos então com mais atenção.

A energia de um carro eléctrico provem, como se sabe, da rede eléctrica. É preciso ligá-los à tomada para carregar as suas baterias, de forma a armazenar a energia eléctrica que será transformada em movimento. Já a electricidade que nos chega através das tomadas é gerada a partir uma mistura de fontes, umas mais poluentes que outras, umas renováveis, outras não: energia hídrica, nuclear, térmica (centrais a carvão), energia solar, energia eólica… Ora, o exemplo que a Economist nos dá do Reino Unido é bastante claro neste aspecto. Se se subsidiasse a aquisição de carros eléctricos de forma a cobrir todo o país, gastavam-se 150 mil milhões de libras. O resultado seria uma redução da emissão de CO2 gerado pelos veículos em… 2%. Se, em vez de subsidiar este veículos, se usasse o mesmo dinheiro para alterar toda a capacidade energética do país para energia solar, o resultado seria uma redução de 33% da emissão de CO2. No nosso País, dado o nosso mix energético na geração de electricidade e a quantidade de sol que temos, é muito provável que o resultado seja ainda mais desfavorável para os subsídios para este tipo de veículos. Mas seria interessante haver um estudo de caso relativo à realidade do nosso País. De qualquer forma, a principal conclusão da Economist é que, se os carros eléctricos são mesmo menos poluentes, seria melhor introduzir-se uma taxa de carbono para haver um maior incentivo para aquisição destes veículos. Claro que um imposto é sempre uma medida mais impopular que um subsídio, e por isso não é por acaso que os governos preferem sempre estes últimos.

Tudo isto mostra que é muito importante, quando se usa dinheiro de todos os contribuintes, estudar todas as variáveis (conhecidas) dos problemas de forma a encontrar a melhor solução. Não esqueçamos que uma das mais importantes funções de quem faz e gere os nossos orçamentos de Estado é o de usar os nossos recursos da forma mais eficiente possível. Infelizmente, a vontade de ganhar a próxima eleição e manter o poder é normalmente superior a qualquer outra lógica.